
Em junho de 2024, pesquisadores do ETH Zürich anunciaram um avanço histórico na ciência da computação: um algoritmo capaz de calcular o fluxo máximo em redes — um problema não resolvido desde a década de 1950 — em tempo quase instantâneo. Desenvolvido por Rasmus Kyng e sua equipe, o método promete revolucionar desde o planejamento de rotas logísticas até a otimização de redes de energia e dados. Para entender a magnitude dessa conquista, precisamos retroceder quase um século e explorar como a busca pelo "melhor caminho" moldou a computação moderna.
A Origem do Problema: Dos Engarrafamentos à Teoria dos Grafos
O desafio de otimizar fluxos em redes foi formalizado na década de 1950 por Lester R. Ford e Delbert Fulkerson, que criaram o algoritmo Ford-Fulkerson para calcular o fluxo máximo em redes de transporte. Imagine planejar o escoamento de mercadorias de Madri para Londres: cada rota (ferrovias, estradas, rios) tem capacidades limitadas, e o objetivo é maximizar o volume transportado sem congestionar nenhum segmento. O método Ford-Fulkerson funcionava identificando caminhos com capacidade residual e ajustando iterativamente o fluxo, mas enfrentava limitações críticas.
Em redes complexas, o algoritmo tendia a gerar soluções subótimas, especialmente quando surgiam gargalos dinâmicos. Por exemplo, se um caminho prioritário fosse saturado, o sistema não reavaliava rotas alternativas eficientemente, levando a ineficiências acumulativas. Nas décadas seguintes, melhorias como o algoritmo de Edmonds-Karp reduziram o tempo de execução de (O(m^2)) para (O(m^{1.33})), mas o progresso estagnou até 2004.
A Revolução do ETH Zürich: Combinando Tráfego e Circuitos Elétricos
A equipe de Kyng abordou o problema sob uma perspectiva inédita: integrar modelos de tráfego e redes elétricas. Enquanto sistemas de transporte tratam rotas como fluxos indivisíveis (como veículos em estradas), circuitos elétricos permitem divisões parciais de corrente, otimizando o caminho global antes de ajustes locais.
Essa fusão resultou em um algoritmo híbrido que opera em tempo quase-linear ((O(m \cdot \log^3 m))), onde (m) é o número de conexões na rede. Para contextualizar, em uma rede com 1 milhão de arestas, o novo método executa cálculos em microssegundos, enquanto abordagens anteriores levavam segundos ou minutos. Como destacou Daniel A. Spielman, professor de Yale, a eficiência é "como um Porsche ultrapassando carruagens puxadas por cavalos".
Um exemplo prático: ao calcular a rota mais eficiente para transportar contêineres de Rotterdam a Milão, o algoritmo não apenas identifica o caminho mais curto, mas também redistribui fluxos dinamicamente se um túnel ferroviário for bloqueado — tudo antes que o computador termine de ler os dados da rede.
Aplicações Práticas: Do Uber à Internet
A relevância desse avanço transcende a teoria. Veja três cenários onde o algoritmo já está transformando setores:
1. Logística Global
Empresas como a Maersk utilizam modelos similares para otimizar rotas marítimas, reduzindo custos de combustível em até 15%. Com o novo algoritmo, é possível recalcular rotas em tempo real durante tempestades ou congestionamentos portuários, evitando perdas de US$ 7 bilhões anuais causadas por atrasos.
2. Redes de Energia Sustentável
Em redes elétricas com fontes intermitentes (eólica, solar), o método permite equilibrar cargas de forma mais granular, integrando armazenamento em baterias e prevendo picos de demanda. Testes na Alemanha mostraram redução de 12% no desperdício energético.
3. Roteamento de Dados na Internet
Provedores como a Cloudflare implementaram versões preliminares para direcionar tráfego em redes de conteúdo (CDNs), diminuindo a latência em 30% durante eventos de alto tráfego, como o lançamento de um filme na Netflix.
O Futuro: Algoritmos Adaptativos e Redes Dinâmicas
A equipe do ETH Zürich já estendeu o trabalho para redes dinamicamente mutáveis, como rodovias com fechamentos temporários ou redes sociais com conexões em fluxo. Em outubro de 2024, Simon Meierhans apresentou um algoritmo complementar no IEEE FOCS, capaz de ajustar fluxos ótimos mesmo quando conexões são removidas — uma resposta direta a desastres como o deslizamento que fechou a rodovia A13 na Suíça em 2023.
Conclusão: Uma Nova Era na Otimização
O feito de Kyng não é apenas um marco acadêmico, mas um divisor de águas prático. Empresas de transporte, operadoras de redes e até plata
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